O anjo que roubou meu coração

Tinha sete anos,
Um anjo desceu na minha frente.
Cabelos de anjo,
Olhos de anjo,
Pele de anjo,
Sorriso de anjo.
O nome dele era Rafael,
Nome de anjo.
Foi quando descobri o amor.

Mas Rafael não me enchergou
E soltou a flecha errada!
Acabou acertando uma outra menina
E se atirou com ela pro céu.
Ele só não sabia,
Que dentro da sua mochila,
Eu mandei meu coração...

Le parfum

Borrifou-se;
E da essência,
Fez-se afeto.

24 de dezembro: Tenho dito

Dia de mudar.
Dia de lembrar.
O passado não é agora,
Meu coração tem sangue novo.

Mais amor.
Menos lágrimas.
Menos dor pra carregar ,
Mais sorrisos pra espalhar.

Vamos cantar?
Vamos dançar?
Ou só vamos,
Pra qualquer lugar...

Pode me levar!

Ditado falso

"Achado não é roubado"
Diz isso pro meu coração!
Ele que de tão bobo
Apaixonou-se por um moço
Que olhou de lado
Virou a esquina
E se foi sem compaixão...

Sonho

Toque valsa ou toque tango
Vira e mexe me remexo
Dois pra cá, dois pra lá
Rodopio e me esqueço.

Os olhos que osculam no obscuro
Pretos, pretos, prendem-se ao passar
Hora vejo seus braços nos meus braços
Entre abraços a se enlaçar.

Sapateio e giro a saia
Solto e de sobressalto me saio
Os solados saltitam no assoalho
Saltando, em teus braços caio.

Sussurras suavemente a serenata
Tocas no meu rosto com ternura
Aproxima-te da face inda rubra
E toca-me aos lábios com doçura

A música para.
Meia noite?
Não!
Não sei dançar...

Acordo.
Suspiro.
Guardo as sapatilhas no armário
E perco os pés no mundo...

Conclusão

Fim de namoro.
Corto a franja.

Novo namorado.
Compro uma chapinha.

Fim de namoro.
Corto Chanel.

Novo namorado.
Meu Deus,
Vou ficar careca!

Pessoas

Bonitas?
Inteligentes?
Espertas?
Até gosto.
Mas prefiro as sensíveis.

Primaveril

Os versos mais sinceros
Sopram em mim a brisa
Tal qual sândalo num vasto campo,
Balbuciam-me: a primavera se anuncia.

Melindrosas, hora de mim se aproximam
E como forte abraço de todo me arrepiam.
Repentinamente de mim se afastam
E como acre vinagre me repudiam.

A rosa amada é do cravo em flor,
Pois se não vês, espinho,
Enfarto e empalideço do meu rubor,
Ao mirar o relógio: É passada a hora, amor.

Se não vens as sete,
Que mandes um beijo pelo vento...
E que seja doce e quente,
Para que aqueça minha alma até o outono.

Bagadeira

Solta a bagadeira de bagaço e aço, flor!
A vida é uma novela, é tudo cravo e rosa...
Se não se sabe se é agulha ou novena,
Fecha os olhos, vai no sorteio e aposta no desconhecido.

Há de se saber que arrependimento,
Dor que leva ao desalento, passa e morre.
Do tiro que se solta no peito vira desgraça,
E de graça se esvai o que não se sabe se é perda ou sorte.

O passado é livro, é romance e lamento
O presente é quadrinho, é luxúria e contentamento
O futuro é carta, lágrima e veneno

Solta a bagadeira de bagaço e aço, flor!
Pois nessa vida de amor e desamor,
Convenhamos, não há mistério...

Não, nada!

Os pedaços de pão velho,
A sopa rala e insosa,
A raiva que passa e volta,
O amor que se foi bate a porta, retorna.

Dos olhos mal dormidos a lágrima rola,
Os dedos finos que se apertam e sufocam,
A magreza fúnebre, a esterelidade mórbida,
Apagam-lhe o brilho e a boca vermelha desbota.

O olhar de estrela ao céu se desloca:
"O amor é triste, minha mãe..."
A lua se volta de forças e diz:
"Não. A vida que é".

Como acontecência

Dois pássaros.
Dois pássaros na lagoa.
É domingo; na lagoa dois pássaros:
Sol.

Passa o domingo.

Um pássaro.
Um pássaro na lagoa.
É segunda; na lagoa um pássaro:
Só.

vestido vermelho

Hoje comprei um vestido.
Sempre passava e o via na vitrine.
Era meu sonho de consumo,
Nem um pouco tradicional,
Nada de similar com meu armário.

Curto. Não, curtíssimo.
Pedindo e implorando salto alto,
Ficando mais curtinho ainda.

Sem mangas ou alças,
Rezando pra cair,
Era o último, era do meu tamanho,
Exclusivo, para mim, talvez.

E o pior de tudo:
Vermelho.
Boca, batom e desejo.

No espelho via outra eu.
Resisti, provei vinte vezes e comprei.
Agora é todo meu, mas pode ser seu,
Se fores meu por um beijo.

Percepção

Vazio.
O céu se desbota e desfaz.
Faltam-me os brilhos daquele dia.
Os olhos tais quais a poesia,
Aquelas estrelas da Via Láctea de Bilac...

Ressaca

Quebrar os muros, juntar os mundos.
Fazendo da menor chance uma ponte,
Tornando o improvável em possível.

Através de choques e diferenças,
Relutâncias, choros e descontentamentos,
Acreditar na mudança, na superação.

Viver o filme, todas as partes.
Imaginar o encontro, a chuva, o deserto,
Deparar-se perdido no beijo.

Fazer da amizade o artifícil,
Da distância o empecílio,
Do desejo, o pecado.

Sentir-se só, escuro.
Ranger os dentes, raiva.
Rever a foto, saudade...

É mesmo que olhar o mar,
Ver a onda que vem e tristemente saber:
Quando chega, morreu; não volta mais...

Desfigurada

Somos um pouco a cada momento.
Mudamos quando tiramos camadas.
E de máscara em máscara
Acabamos por perder o que fomos um dia.

Quando nos relacionamos
Criamos uma base fixa
Ela é perfeita, intocável
Mas o vento desgasta a tinta e o brilho.

Pouco ou muito,
Não é o tempo que determina a intensidade.
Montamos a máscara com o amor mais valiososo,
Idealizamos nela a nossa metade.

E quando percebemos,
É o nosso rosto em outro.
E já não sabemos até onde um começa,
E em qual ponto o outro termina.

Anedota particular

O vento sopra lá fora,
Sua força balança as árvores,
Sua direção empurra o rio ,
O seu som me assusta...

Fecho a porta.

Por quê estou aqui?
Para onde todos foram?
Meus sapatos estão limpos,
Minhas roupas bem passadas,
Meu chapéu com etiqueta...

Não saio daqui.

O edredom é uma pressão.
Fujo,
Refugio-me,
Esqueço-me.
O vento lá fora grita,
Chama, clama;
A verdade me diz.

Tapo os ouvidos.
Sou ser só.
Sim, só.

O mundo, Luisinha...

Era um dia normal,
Caminhava lentamente pela rua,
E uma cena jovial fixou meu olhar.
Um garoto,
Não mais de doze anos, e menos altura ainda,
Admirava com todas as forças a menina de tranças.
Ela sorria com tantas outras,
Mas era só para ela que ele olhava,
Com ternura, devoção, admiração,
Admirei-me.

Ele gritou alto, muito alto,
Mas ainda tão baixo para que o coração dela ouvisse:
"Você quer o mundo? Eu te dou o mundo Luisinha",
Luisinha saiu balançando as tranças e dando uma gargalhada.
Falto-me lenço e coragem de abraçar aquela criança,
Que mesmo sem saber, com suas lágrimas,
Tinha acabado de me ensinar o que era amor.

Foi com o vento meu desespero,
Calou-se meu tormento.

Uma brisa leve afaga meus cabelos,
Acalenta alma, corpo, coração...

Tinha que cair,
Caiu.

Foi o tempo,
O peso,
Eu mesma,
Perdão.

Veja,
Trocaram a música,
Allors... allons danser.

O mundo depois do muro

Descobri em outro mundo
Um mundo igual ao meu.
Com luas enomes,
Melodias sinfonicamente perfeitas,
Amigos repartindo a mesma escada na noite fria,
Entre versos e prosas embaralhadas...

Parecia sonho, e na verdade era.
Não esse mundo, mas tudo em volta dele...
As pessoas eram diferentes,
O comportamento era diferente,
O jeito, a voz, as permissões...
Proibido.

Queria abrir os olhos e ver esse mundo!
Gostei dele, como gostei dele...
Mas eu não posso vê-lo,
Tem um muro na frente,
E eu não consigo mais enxergar.

Queria crescer,
Ser maior que o muro para o pular
Ou ser mais forte, para o derrubar
Ter super poderes para fazê-lo desaparecer!

O que eu mais queria,
Era aquele mundo pra mim.

Três, dois, um...

Sufoca-me.
É o tic-tac eterno desse relógio.
Esse barulho latejante,
Esse suspense agonizante,
Caustrofobolizando-me...

Não vá tempo.
Tempo, não passe!
Eu não gosto,
Eu não quero,
Vivo sentindo saudades...

Eu quero viver tempo!
Eu preciso amar,
Quero aprender a dançar,
E meu amigo ainda não chegou.

Mas você tá me levando tempo...
E eu aqui passando,
Viro lembrança.

Desjuras

Amigo, tu sabes que te amo
E mentira seria se disssesses que também não me amas
Mas este sentimento que nos une de tal maneira
É o mesmo que nos separa nesta distância...

Somos dois mundos meu amigo;
Duas pequenas parcelas de extremos.
Não sabemos de nada nessa vida,
Pois aprendemos a enxergar com o coração...

E que tolo coração amigo!
Que traição sem tirar nem por...
Não era pra ser assim,
Era pra cada um viver por si.

Não tentemos tentar,
Não dancemos a valsa,
Não juntemos as mãos,
Não peçamos perdão...

Fase de lua

O céu escuro,
As estrelas sumidas,
O encanto acabado;
Acabou pra mim.

E se não era,
Pois era então pra não ser.
Não foi dessa vez,
Mais uma vez.

Coragem é o que falta,
De ir e dizer,
Pois agora neste céu,
Tem uma nova lua cheia...

é Rebbeca, agora você não vai mais pra pediatria...

Não faz muito tempo que lembro de um muro salpiscado de um metro.
Tinha três anos de tamanho e uns trinta de ruindade
Subia no muro como um gato esperto
Pegava as florzinha barulhentas da casa vizinha para estralar na testa
E num desses dias, por subir e descer do muro,
Tombei e cai com a cabeça no chão.

Minha mãe não tava, meu pai tava
Minha mãe orientava, meu pai chorava
Lembro do sangue pelo rosto e da água no tanque
Eu só lembro do disso, o resto me contaram e eu acreditei.

O que de fato sei, é que não tivesse caído naquele dia,
Hoje tudo poderia ser muito diferente do que é.
Talvez trocasse as letras por números,
Talvez não gostasse tanto de borboletas,
Talvez lembrasse de mais coisas do que lembro,
Talvez não sentisse tantas dores de cabeça,
E com certeza nao teria essa cicatriz que olho todos os dias no espelho.

E se hoje caísse do muro, por um dia não iria mais pra pediatria
Nem ia ganhar chupeta pela chantagem emocional
Minha mãe não ia estar, meu pai também não
Nem meu irmão magrela de sorriso amarelo...
E isso, com certeza, doeria muito mais que a queda!

Nada de falar,
esquece de falar!
Escuta, escuta,
eu que preciso falar!
Não tenha medo,
medo que criou o verbo amedrontar...
Esquece o passado,
Segura a minha mão,
Vamos dançar uma valsa,
Vamos correr até não aguentar mais!
Vamos ficar quietinhos,
caladinhos,
vendo o sol se pôr...

Lembranças na estação

Louca, louca!
Ela é uma louca...
Suas roupas rasgadas,
Seu cabelo assanhado,
Seu rosto sujo,
Seu triste rosto sujo...
E por ela, tudo passa!
Passa o trem,
O mesmo menino chorando passa,
Passa a menina pulando,
A mulher do nariz empinado passa...
Tudo, tudo passa!
O dia passa,
A semana passa,
O mês passa,
Um, dois, três...
Mas a louca fica!
E eu mais louco ainda fico,
Ao perceber, que o amor que por ela tinha,
Também passou.

A poética vida

Um pouco de poesia.
Um pouco de vida.
Um pouco de pouco.
Mas que seja muito.
Muito para mim...
Para mim, que seja tudo!
Qu eu seja o mundo.
Que eu seja o motivo.
Que eu seja o sonho.
Ou que eu apenas seja...
Um pequeno, um pouco!
Mas que seja alguém,
Que vê as cores,
Que sente os cheiros,
E que ama as palavras!
E da mais amada,
A palavra vida...

"Vês" da vida

Ventos velam voluptuosamente
As velas inda acesas nas catedrais
As vozes vagas vão e vêm
E em um dos vens, não voltam mais.

Vejo Virgínia vestida de verde
Viajando nos vales, viva até demais!
Mais viva é Virgínia em mim,
Mesmo quando os ventos não a velarem mais...

Aflorecer das almas

Lâmbido gotejo do orvalho
Rosas, lírios e flores amarelas,
Molha e seduz a mais cálida pétala,
Acalenta as almas em flores entreabertas.

Do pêndulo ao caule: o gotejar
Da haste a folha: gotas a rolar
Do pólen a raiz: vida a despertar
Do coração amado: amar

Soprou como brisa de primavera
Mergulhei intensamente neste rio em flor
Era qual uma borboleta que descobre,
Um paraíso novo, chamado amor...

Era ela...

Um baixo grito
Sufocado
Reprimido
Caustrofobilizado...

Uma estranha,
Num lugar qualquer.

Uma menina,
De um gênio formidável.

Um cheiro leve,
Numa essência singular.

Uma palavra,
Em um enorme poema...
 
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