Fascínio

Não sei quando, nem como,
Mas foi quando e como que foi você.
O coração, copasso e laço, céu e mar,
Gritou: "Amor, não viu? Passou"!

E que sufoco, zonzo, bobo.
Saiu de si, completo louco.
Correu até a BR e se viu.
E era triste aquela mala vazia, solidão.

Coração que não entende, como e onde.
Coração que, fascínio, perdeu-se no outro.
Coração, que perdura, amor e poesia.
Coração, que você cantou,
E que agora fez do eu, sofrida.

Chuva, cai, cai

Vamos tomar banho de chuva?
É só pedir com jeitinho, que vai!
Pinga, pinga cá, cai, cai lá!
Sorri, benzinho... terra não é mar!
Vamos tomar banho de chuva?
Cada gota é o céu no chão.
Vamos dançar nesse chuvisco,
Como quem abraça o amado
Que marcou data no calendário,
E depois foi pra longe, solidão.

Codinome

Não sei o que sei,
Mas sei o que não seria,
Se não soubesse o que ser,
Sem te ter junto:
Seria sem nada.

Não sei o que seria,
Sem teu ser,
Por isso, sou,
E sou sua,
E se quiseres,
Seremos.

Casamentos, reais

Maricota decidiu que vai casar de véu e grinalda e viver em um castelo. É pleno verão no Nordeste. Ela viu a quase princesa Kate na televisão e decidiu que ia marcar o casamento no mesmo dia, só pra ver se chamava atenção na cidade de dois mil habitantes, contando os jumentos de carga, e as dez cabeças de gado da fazenda vizinha. Como não conhecia o Luiz Vutón, o tal desenhista dessa nobreza moderna, Maricota pegou lápis e papel de pão e fez, bem no capricho, um vestido com muita fita, mas muita fita mesmo, pra amarrar nas florzinhas de papel higiênico colorido e deixar o vestido digno de uma princesa.

Ela ouviu que no casamento de Kate vai ter atração musical de ponta, e pra não ser diferente, chamou Shaquito, o primo perdido da pop estrela secular (mas ela não sabe, é segredo por que não tem o tal exame de DND), pra tocar na rabequinha a marchinha de núpcia – aquela música que toca quando a noiva entra e vê o noivo chorar e nem aí, por que todo mundo sabe que ele é macho.

Boba que nada, Maricota foi na biblioteca e achou o livro de uma outra princesa, que, provavelmente a Kate deve estar imitando. O nome dela é Cinderela, carruagem de abóbora. Abóbora Maricota não sabe o que é, mas que parece com Jerimum, parece! E se Kate imita, Maricota também imita. Decidido o prato principal: charque na moranga, com arroz carreteiro pra acompanhar. Jerimum no Nordeste ainda não tem rodinha, e a tal fada madrinha parece que mudou de endereço pro pólo sul, “é mais longe que Recife, pai?” É. Maricota desistiu e vai de carroça mesmo, que dá pra espalhar a cauda do vestido sem amassar.

Sexta-feira de manhã. Kate está no closet real, tá na televisão que ela tá escondendo o vestido pra não ter mau olhado. Maricota ta nervooosa! Já tomou quatro copos de garapa e os biílírios dos bobes tão caindo tudo! O rouge ficou muito vermelho e ela começou a chorar e borrou tudo mais. Só não borrou mais que olho de Kate, que, mesmo impecável, continua insistindo no lápis perto embaixo dos olhos. Lírios e margarida. Palácio e sítio. Solitária de diamante e anel de coquinho. Coroa de pedras preciosas e arranjo de flores. Uma só marcha nupcial. Kate e Maricota. Hoje, as duas viram princesas, e depois disso, o conto de fadas perde as asas.

Dança comigo?

Tu, tun, tuc, tac, tun,
Tun, tun, tun, tuc, tac, tun, tun,
Tuc, tuc, tun, tuc, tun,
Tuc, tuc, tun, tun, tun,
Tun, tun, tun, tuc, tac, tun, tun...

A música pouco importa,
É esse embalo entre eu e você que move...
Você não faz idéia há quanto tempo
A minha mão espera pela tua,
E a quanto meus ouvidos, pelo pedido:
Dança comigo?

Tu, tun, tuc, tac, tun,
Tun, tun, tun, tuc, tac, tun, tun,
Tuc, tuc, tun, tuc, tun,
Tuc, tuc, tun, tun, tun,
Tun, tun, tun, tuc, tac, tun, tun...

Danço.
Mas só se for pra sempre.

O toque secreto

Aquele toque, que a receita enobrece,
É uma coisa simples, que de facilitar,
Perdeu-se entre os ovos e o trigo.
Uma textura leve, que sublima clara em neve,
Um gosto forte, que pimenta e malagueta,
Um cheiro vício, chocolate, mais meia taça de cassis.
É receita de bandido, quando atira no escuro.
É receita de vovó, quando quer ganhar beijinho.
É receita de gato, pra um cão arrependido.
É receita de maluco, quando foge de hospício.
E é minha receita, amor, quando te olho e desvio.

Casamento civil

Percebi que estava completamente louca,
Naquela hora que me deram a caneta:
Tinha um infinito de possibilidades,
Mas me assinei ao lado do seu nome.

Pá de plástico

Mariazinha tomava sorvete aos sábados.
Cinco quadras, vira a direita, em frente a padaria.
Seu João Geraldo, do bigode largo, servia.
"Uma bola de creme, e pá de plástico, por favor",
Era a frase, melindrosa frase que pedia e repetia.

Até que um sábado, Mariazinha trocou saia por shortinho jeans,
Pegou as cinco quadras, virou à direita e parou na porta da padaria.
Seu João Geraldo, do bigode largo, paralizou:
"Mariazinha, pra onde você vai, minha filha?"
"Pistache, creme russo e framboise, e vou comer na casca",
Gritou toda debochada do meio da rua.
Era dezessete de fevereiro,
Mariazinha fazia vinte e cinco anos,
E ele nem notou!

Recado

Mais do que você aqui,
Eu quero você pra mim.

Na porta do aeroporto

Expresso de um e um minuto!
É tudo que preciso pra aquietar meu coração.
Ele, que tão doido, sai voando de mim,
Se abraça nos teus braços, pede colo pra dormir.

Esse mesmo coração que canta e desafina lindo!
Que tonto tropeça e sai mancando por aí.
Coração que devaga e conta as horas dessa espera,
Promete: só se desprende do relógio quando a porta abrir.

Trinta dias vezes vinte e quatro horas,
Vinte e quatro vezes sessenta: contagem sem fim!
Conometrando o segundo que em verás os olhos feitos pra ti,
Apertando-se ao te verem, aprendendo rapidamente a sorrir.

Promessa

O pôr-do-sol é igual à tuas palavras:
Ditas, ao logo da estrada,
Guardadas, para um dia me entregar.

Como forma, em fôrma conduzir,
Trouxe, dentro de mim,
Os versos, certos, dedicados a ti:

"Hoje te amo mais que ontem
Agora te amo, mais, e sempre,
Amanhã, eu e você, eterna, mente."

O paralelepípedo e o pedido

Andar na rua com a cabeça na lua,
Faz de menina sonhadora, tola!
Vem um paralelepípedo,
Solto, no meio do caminho,
E os sonhos, alvinhos,
E os pés, macios,
Desatam suas raízes ao chão.

Esparadrapo, gesso,
Esparadrapo, gesso...
Espere um pouco...!
Eis a solução! Já dizia a vovó:
"Depois que casa, melhora!"
Diga-me pois o que vou fazer aqui sem o céu?
Corre! Temos apenas uma semana...
Já te espero de grinalda e véu!

Óculos escuros

A invenção para tapar o sol,
Não é de hoje modinha de garoto...
De relance, bate, olha e fica;
Nem sequer coração disparatina,
E já sai rebolando no rebolar da menina.

À bordo

Coração é vagão de passagem
Aquele que apita no "à vista" o trem.
Quando aparece na gare,
Vem de terno e gravata,
Carregado por um buquê de rosas,
E encharcado de perfume francês.

Até que a locomotiva pare,
Não para de suar as mãos.
Até que as mãos se enlacem,
Se em linha sozinho na multidão.

Depois de minutos de espera,
Sem a moça, desespera.
Coração pula da janela,
E embarca nesse trem.

E canta:

"Em algum canto dessa estrada,
Vai vestida de renda e flor,
Em ti, vou encontrar meu sorriso,
Que no teu riso, comedido,
Já se faz em cheiro de beijo, amor."

Segredo

Conta só pra mim?
Se o problema é o mundo saber,
Fica tranquilo!
Pra mim, o mundo só sou eu e você...

Horas

Convenhamos: o relógio faz barulho sim!
Mas só quando o tempo é medido com horas.
Se esquecemos os ponteiros em casa,
E substituímos os segundos por abraços,
Fica bem mais fácil pro tempo,
Digo, ele mesmo,
Passar,
Sem demorar.

Romântica moderninha

Ela adora chocolate,
Lê Clarice todo dia,
Usa vestido rendado,
E escreve versos,
Apaixonados.

Na agenda colorida,
Suas preferências:
O toque? Seda.
O cheiro? Chuva.
O gosto? Jujuba.
A música? SMS chegando!

sonho de menina

sou menina e chegou a hora de dormir.
vou dormir pra preservar as palavras,
para tornar as palavras o meu voto de verdade.
depois vou guardar essas verdades dentro de uma caixa,
e essa caixa vai ser amarrada com uma fita,
a fita vai ser colorida, e a caixa, dos dias.
vou guardar a caixa embaixo do travesseiro,
porque embaixo do travesseiro, o hoje vira sonho...
e meu sonho de hoje é fechar os olhos e docemente pensar,
que alguém pensa em mim quando fecha os olhos.

Olhar

Não me olhe com esses olhos acostumados...
Quero olhares, que, quando trocados, brilhem!
Luzes que reluzam feito estrelas em noite envelhecida,
Globos encharcados que se afoguem de mar,
Olhos, apaixonados, que se beijem no ar.

Flor que canta

És tu, morena,
O sol dos meus dias!
O cravo e a canela,
Que cheira, que vela,
E, pelo sorriso, venera.

Desatino, em teu viver, o amor.
Que pintado, no teu rosto,
Virou cor!

Seja hoje e sempre,
A voz, que em ti, virou canção,
Como uma onda no mar,
Que balança brisa e coração.

No dizer do adeus

Escrevi um livro,
Onde na mistura de letras e rabiscos,
Lê-se, entre linhas, o amor.

Nas páginas,
Nossos dias não vividos,
Lágrimas derramadas pelo coração,
E palavras, caladas pela porta de vidro,

Junto a capa, amarrei meu perfume.
Uma essência reservada aqui, para ti,
Mas que para não morrer sem exalar,
Largou-se de mim e embarcou na mala da tua partida.

Partiu

Na carta de despedida
Três lágrimas amargas,
E uma palavra,
Sem dúvida, perdida:
Perdão.

Viagem de passagem

Coração, diz de andorinha,
Bateu as asas e voou.
Em algum canto dessa estrada,
Largado, sem pudor,
Em desatino a sofrer, só então perceber:
É, foi, amor.

Dica de chef

Quando for escrever o amor,
Use a mesma receita de brigadeiro.
No livro, para cada copo de leite,
Os ingredientes na exata sequência:

.2 colheres de açúcar;
.3 colheres de chocolate solúvel;
.Manteiga para untar;
.Granulado pra embrulhar;

No modo de fazer, siga os passos:

-Oito minutos no fogo, sem parar de mexer.
Atenção! Falta de cuidado embola a receita,
O doce queima, estraga.

Por fim, com carinho,
Escolha os melhores dias,
Modele-os em pequenas bolinhas.
E, com risos, encha-as de granulado colorido.
Embrulhe em uma caixinha e,
Antes que esfrie,
Bata na porta do vizinho,
E troque-as por beijinhos.

Jura

Se um dia duvidares do meu amor,
Peço que corras para a beira-do-mar.
Lá irás encontrar, em grãos,
A mesma proporção de beijinhos,
Que, com carinho, prometi dar na tua boca.

Retrouve

Quando o coração manda que sejamos fortes,

É sinal que ressurgiu a nossa vocação para as lágrimas.

Aí lembramos que em algum lugar da vida,

Deixamos um papel escrito:

“Esse é o meu último choro, a saudade morre aqui”,

Mas longe do sumiço, volvemos de água os olhos,

E só então percebemos que as nossas firmes promessas de retidão,

São as que mais uma vez se debruçam sobre o batente.

Quando as palavras se vão

Decidi que iria parar de escrever.
Coração perturbado e palavras,
Têm o mesmo risco de bebida e direção.

Agente fica na encruzilhada a vida toda,
E quando escolhe o caminho,
Vem um caminhão desgovernado,
E os pés que achavam ter ganho o mundo, desatam no chão!

Fica uma mala de couro cheia de lembranças,
Aquelas surradas sapatilhas vermelhas,
E de quebra, um coração todo amassado.

Só então agente percebe que pra remendar os frangalhos,
A solução é retomar com os próprios pés ao amor sem dor,
E como mendigo, tirar do bolso as duas palavras que restaram:
Perdão, voltei.

De dois

Bigamia é crime,
E coração partido, é o que?

Amor de dois, pode ser amor de três?
Ou será que dá cadeia?

Na dúvida, joga as alianças no lixo,
E manda o coração pro convento.

Novas regras gramaticais

Anunciaram!
Vão mudar a gramática.
A lei agora é fazer de nós dois, escrita.
Assim como quando pego as letras,
E vou colando, até virar poesia.

Indiquei a primeira mudança:
Tirarei a vírgula que nos separa.
Depois, vou virar a interrogação de lado,
Fazer de isca, e te puxar para o meu abraço.

Se fizer sol forte,
O circunflexo vai se prolongar,
E ao invés de cobrir só uma vogal,
Vai ser chapéu para ditongo, dois, em um lugar.

Mas se chover, aí não vai ter jeito!
Seu topete com gel em til vai desabar.
E mesmo se o trema prometer voltar,
Ainda não vai impedir da chuva nos molhar.

Completamente enxargados, pegaremos uma borracha.
Rapidamente, apagaremos os hífens e as aspas,
Então juntaremos a minha boca, e a sua boca,
Em muitos beijos, molhados.

Partida

Quando for dizer adeus,
Faça-o em palavras escritas,
Deixe-me um bilhete que diga:
"Amor, fostes doce, mas chegou a partida".
Pois só assim me iludiria,
Que não foi essa dor de mim,
Mas uma súbita loucura em ti,
Que me fez sofrer.
 
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